segunda-feira, 21 de maio de 2012

Um sonho manchado por verdades parciais


Não pretendo ser longo nem demasiado pormenorizado na abordagem que irei fazer. (Re)descobrir a época 2011/2012 do C. D. Feirense, na Liga Zon Sagres, poderá mesmo ser um exercício complexadamente desvirtuado. Sem pretensiosismos ou demasiada atenção ao acessório, vou deixar-me da rama e entrar no cerne.

21 Anos depois o Feirense comemorou o regresso à 1ª Liga. Em Maio de 2011, em pleno Festival Internacional de Teatro de Rua, a cidade de Santa Maria da Feira parou para um jogo de futebol… muitas emoções, nervos e palpitações, mas ao final do dia um autocarro em tons de azul acabaria por sair à rua.
Desde então tinha início o percurso rumo ao escalão máximo… pautado pelo rigor e pela inflexibilidade na margem financeira. As expectativas estavam lá no alto, mas de facto haveria que cumprir aquilo que afinal de contas até está inscrito nos regulamentos do próprio clube: a estabilidade financeira.
Dadas as limitações de infra-estruturas, de imediato avançou a reformulação do Estádio Marcolino de Castro. Novos balneários, uma zona de imprensa, bancadas alargadas e requalificadas, nova iluminação e novos acessos. A isto somam-se um vasto conjunto de pormenores e um orçamento que corria o risco de descarrilar. Haveria que pautar, ainda mais, pelo rigor. Então, haveria que considerar a nova realidade com muita expectativa, mas com os pés bem assentes na terra.

O orçamento curto seria para gerir em rigor e decidiu manter-se a base. Quim Machado manteve-se na liderança e o core da equipa continuou a vestir a camisola. Uns quantos reforços, alguns badalados até demais… Viria a pré-época e, com ela, os maus resultados. Uma dificuldade notória em mostrar a garra feirense e pouco mais rendeu do que o Torneio da Feira.

Já o Verão ia longo e com o Marcolino de Castro em obras haveria que encontrar alternativa para os jogos em casa: primeira saga “incompreensível” do ano. O Feirense chega a acordo com a Câmara de Gaia e apresenta o Estádio Jorge Sampaio como a sua casa emprestada. Curiosamente a Liga recusa o estádio por uma questão de tamanho das balizas (diz-se)… problema, “ouvi dizer” que este mesmo estádio foi já várias vezes utilizado pela Selecção A por várias ocasiões. Então, se a UEFA diz que sim, porque veio a Liga dizer que não. Dispensem-se resposta em “fora de jogo”.

Começava a época com os jogos em casa emprestada a decorrer no Municipal de Aveiro… até Setembro… até Outubro… até Novembro. Pelo caminho um início de campeonato à Feirense, com a garra azul ao mais alto nível, apesar dos resultados não tão bons. Excelente exibição na Luz… e grande jogo, em casa emprestada, frente ao F. C. do Porto. Tirando um ou outro deslize de cor amarela “tosca” no início da época, as coisas iam rolando, até à recepção ao Sporting… e não vale a pena desenvolver. Deste então, seguiu-se um negro período, em que as questões de arbitragem não poderão ser esquecidas. Há que reconhecer os graves problemas de finalização do Feirense, mas com tamanho obstáculo o desfecho começava a prever-se.

Pelo percurso Taça de Portugal e Taça da Liga foram pautadas pela eliminação imediata, levando ao concentrar de atenções nos jogos da Liga… mas, dada a conjuntura “amarela”, eis que chegou a época da desmoralização, dos maus resultados crónicos. Efeito psicológico de um 12º opositor em campo com consequências visíveis no rendimento ao longo das semanas.

Época de reforço sem frutos, apesar das tentativas de aposta na frente do campo… tudo continuou igual. Até ao final da época o problema continuou o mesmo: a finalização. Até porque no extremo oposto do relvado o caso era inverso: Paulo Lopes revelou-se um elemento essencial para o Feirense, sendo em muitas ocasiões o jogador mais importante para a equipa.
De facto, não houve reforços porque não havia dinheiro… mas, alguns “vizinhos” não pensaram bem assim. Parece que há quem tenha subido do último ao sexto sem pagar as contas: fará isto parte dos critérios da verdade desportiva?

Deixando para traz os factores externos, olhemos para dentro. Muito de falou na questão do treinador e num eventual mal-estar no balneário. A opção da direcção foi a continuidade, mas Quim Machado acabou por sair “fora de horas”.
Henrique Nunes entra com toda a energia… e arrasta resultados que há muito não se viam. E com o Feirense em crescendo voltaram os factores externos. Adiante uma vez mais… Prometo que não volto a falar em questões “amarelas”.
Enfim, voltara a esperança… Na Marinha Grande, o Feirense quase não teve adversário. Mais um incumpridor que, por acaso, teve consequências, enquanto para outros continua tudo igual. Contra um União de Leiria com apenas 8 jogadores o Feirense conquistou os pontos que lhe permitiram sair da linha de água… mas, lá entrara um histórico. E quando assim é…
Enfim, o sonho morreu “na praia”, com o Guimarães… E o castelo acabou mesmo por desmoronar em Barcelos. Ficara a esperança da Liguilha, mas tudo morreria três dias depois, em mais uma das novelas do futebol português. Será que se no lugar do Feirense estivesse a Académica a opção da FPF seria a mesma? Adiante, uma vez mais.

Em resumo, o Feirense terminou o campeonato com 24 pontos, na 15ª e penúltima posição, portanto abaixo da linha de água. Com 16 derrotas e apenas 5 vitórias o caloiro foi uma vez mais empurrado para a segunda, mas será que a situação é mesmo de segunda?
Nesta época o Feirense registou brilhantes audiências em casa. Com uma média 3138 espectadores por jogo e com mais de 47mil no total, o Feirense surge na 11ª posição da tabela de espectadores por clube. Nada mau para um estreante, com resultados habituais bem mais reduzidos
No que à bola na rede diz respeito tivemos um problema. Esse foi mesmo o calcanhar de Aquiles. Assim, Buval foi mesmo o melhor marcador, com total de 8 golos.

Com isto, terminou a dia “Liga da Vergonha” ou mesmo a “Liga da Mentira” e começou uma nova batalha, o designado “Campeonato da Verdade”. A atenção está focada na situação financeira dos clubes que se inscrevem nas ligas profissionais e nas consequências da indefinição das alterações ao número de clubes e ao modelo. Há juristas a trabalhar… aguardemos!

Será que poderemos dizer que esta Liga terminou?

Texto desenvolvido para o portal ForaDeJogo.net

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