terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Fogaças começaram a ser entregues a alunos do 1.º ciclo, servidas com história que explica a tradição

A confreira Gracinda Sousa é autora de um dos contos que hoje aí foram narrados repetidas vezes, em sessões com cerca de 50 alunos cada, e, trajada a rigor para o efeito, declarou à Lusa que o objetivo desse envolvimento é "divulgar e promover a fogaça e as tradições da cultura identitária local", pelo que os conteúdos relativos à Festa das Fogaceiras - que se celebra no concelho na sexta-feira - "até deviam integrar o programa curricular das escolas do município".
Também com o chapéu a lembrar o pão doce que há 507 anos se vem oferecendo a S. Sebastião pela sua proteção contra a peste negra, Joana Martins admite que, em janeiro, as escolas da Feira "costumam preparar previamente os meninos para a temática da fogaça".
A mestre da Confraria reconhece, contudo, que esse trabalho é mais intenso nos estabelecimentos de ensino do centro da cidade, pelo que espera que iniciativas como a de hoje "possam difundir mais a história local e ajudem a sensibilizar para a tradição, não só as crianças, mas também os adultos".
"A ideia é que os pais tragam as crianças a ver o cortejo, venham viver com elas a tradição e ajudem a preservá-la por muitos anos", afirma a confreira.
"No fundo", acrescenta o confrade Francisco Pinho, também ele autor de outro conto sobre a principal iguaria da terra, "está-se a deixar aqui uma espécie de fermento que vai ser levado para casa das crianças e começará a crescer lá, com os pais dos meninos".
Para a professora Célia Duarte, toda esta componente pedagógica resulta de um aspeto prático relacionado com o ponto alto da tradição, que é o cortejo de sexta-feira com centenas de meninas a desfilarem de branco com uma fogaça à cabeça.
"Há uns anos, a adesão não era a mesma e tornava-se difícil convencer as meninas a participarem. O trabalho nas escolas surgiu para dar a conhecer melhor a história, cativar as crianças e o facto é que, agora, notamos nos miúdos uma grande motivação para este dia", diz a docente.
A parte da fogaça na cabeça é aquela de que Manuel Ratola mais gosta em todo o contexto da tradição. Tem sete anos, diz que a mãe é da Feira e já lhe tinha falado da Festa antes de as professoras abordarem o assunto. Está tão habituado a comer fogaça que a consegue cheirar no ar e, enquanto falava, descobriu uma caixa cheia delas, reservadas para as turmas da tarde.
"Se eu ia desfilar com a fogaça se o cortejo também fosse para rapazes? Acho que não. Ia ter um bocado de vergonha", confessa. Mas garante que gosta de ver as meninas a passar e não perde uma oportunidade para saborear o pão tradicional com manteiga e com queijo.
"Sim, as três coisas juntas, todas ao mesmo tempo".
Já Inês, na sua pose de “senhorinha”, prefere o pão doce ao natural. Embaraço também não tem e vai estrear-se este ano como Fogaceira, porque gostou da ideia quando a professora a propôs às meninas da turma.
"Falei à minha mãe e ela aceitou", revela. "Disse que os braços me iam ficar a doer de segurar a fogaça, mas era para ver se eu desistia e no desfile acho que vai ficar toda contente a olhar para mim".
Com o frio, a Inês também está a contar e sabe que sexta-feira vai ter que levantar-se cedo para se reunir às centenas de meninas que, a partir das 09:00, começam a assumir as suas posições no cortejo até à Igreja Matriz.
Mas, na mesma pose serena do resto da conversa, encolhe os ombros e assegura: "Não há problema nenhum. Eu já me levanto todos os dias às sete da manhã".

@ Sapo

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